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O cacique Toninho Guarani (PT), da aldeia Boa Esperança, em Aracruz, norte do Estado, apresentará seu nome à Comissão de Caciques para disputar novamente a cadeira de deputado federal. A afirmação foi feita nesta segunda-feira (25), dias após lideranças indígenas declararem ao Século Diário que as comunidades ainda não articularam um candidato às eleições deste ano, como é prioridade de entidades no campo nacional. “A nossa dignidade nunca foi dada de graça. Temos que lutar”, declara Toninho.
A liderança indígena, que também tentou se eleger como deputado federal em 2018, mas recebeu apenas 2.327 votos, acredita que este ano o cenário político está mais favorável. “Muitas pessoas estavam manipuladas pela extrema direita. Eu acredito que, agora, os olhos que estavam vendados estão abertos”, aponta. Toninho já tem o apoio do vereador Vilson Jaguareté (PT), o mais votado em Aracruz nas eleições municipais de 2020.
Atuante nas mobilizações indígenas pelo direito à terra, este mês o cacique de Boa Esperança foi a Brasília participar do Acampamento Terra Livre (ATL) e diz que pretende voltar em junho, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) retomará o julgamento do Marco Temporal. A tese só considera terras indígenas aquelas que estavam sob a posse das comunidades em 1988, quando a Constituição Federal foi promulgada.
Para Toninho, a aprovação do Marco Temporal é uma tragédia não só para Aracruz, mas para indígenas de todo o País. “Existem muitas terras que não foram demarcadas, têm terras que nem a identificação foi feita. Para nós, é uma tragédia, uma degradação de vidas, uma degradação de direitos”, ressalta.
No Espírito Santo, as terras indígenas foram demarcadas em 1998, 2002 e 2008, somente após intensa luta com a atual Suzano – ex-Aracruz Celulose e ex-Fibria. Para Toninho, a garantia de posse sobre territórios que sempre pertenceram aos povos indígenas é uma das principais pautas das comunidades em 2022 e, consequentemente, das eleições. “Do governo federal nem tem como esperar nada. Eles odeiam a gente”, enfatiza. “Estamos defendendo não só a fauna e a flora, mas todo ser que vive na terra. Sem a terra não tem como caminhar, fazer nada”, acrescenta.
As candidaturas indígenas para os legislativos são defendidas por entidades como a Articulação dos povos indígenas do Brasil (Apib), que em fevereiro, abriu um chamamento com o objetivo de dar visibilidade e apoiar possíveis nomes. No dia 12 de abril, durante o Acampamento Terra Livre, a organização lançou pré-candidaturas, propondo que os partidos políticos aliados assumam um compromisso com os povos originários, incentivando e legitimando a filiação partidária. Mais de 30 pré-candidatos a cargos no legislativo participaram da mobilização, com pelo menos dez pretendentes a uma vaga no Congresso Nacional.
O fim da política de ódio às comunidades tradicionais, evidente nos projetos apresentados pela bancada ruralista e apoiados pela gestão Bolsonaro, passa pelo ‘aldeamento da política’, como a Apib definiu: “Historicamente somos invisibilizados, geralmente em razão da nossa identidade étnica, e por conta do racismo institucional, do preconceito e da discriminação, que induzem a sociedade a ignorar a nossa condição de sujeitos políticos, protagonistas do nosso destino. O resultado dessa exclusão é a sub-representação gritante dos nossos povos nos parlamentos, situação que atinge também as mulheres e os negros”.
Nas eleições municipais de 2020, que elegeu Vilson Jaguareté, o município de Aracruz contou com quatro candidaturas de indígenas ao legislativo municipal, porém, com votações modestas. Anteriormente, teve apenas um indígena no legislativo municipal, Ervaldo Índio (PMN), também Tupinikim, que chegou a exercer mandato entre 2015 e 2016, entrando como suplente do então vereador Erick Musso (Republicanos), após sua eleição como deputado estadual. Ervaldo não conseguiu se reeleger.
Fonte: Século Diário.