Nova vacina contra a dengue pode começar a ser aplicada em 2025
17 de dezembro de 2024Projeto estabelece Aracruz como berço da imigração italiana
17 de dezembro de 2024Rodovias, grandes obras públicas, saúde e educação são alvo do governador do ES para o ano que vem, depois do investimento recorde de R$ 4 bilhões em 2024
A economia que se destaca do restante dos estados do país, investimentos bilionários em infraestrutura, entrega de obras importantes, preocupação com a educação, saúde, sem deixar de falar da paixão por futebol e a rivalidade política.
No balanço do fim de 2024, em entrevista aos jornalistas Edu Kopernick e Juliana Lyra, o governador Renato Casagrande (PSB) pontuou as áreas onde o Estado teve destaque, onde é preciso melhorar e, além de falar sobre o ano novo, o que ele projeta para os próximos dois anos de governo.
Casagrande não deixou de responder sobre o processo eleitoral que se avizinha, em 2026, mas não cravou quem terá seu apoio na concorrência ao Palácio Anchieta. Ele não pode mais ser candidato por já estar no segundo mandato. Falou sobre a rivalidade com o prefeito da capital, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e de como o Estado pode se tornar referência mundial em sustentabilidade.
A entrevista foi concedida no Parque Cultural Casa do Governador. A residência oficial virou atração turística e cultural e agora é aberta ao público. O assunto cultura também fez parte desta entrevista, com promessa de entregas importantes que devem ser feitas em breve.
Veja abaixo o que disse o governador:
O cenário escolhido para esta entrevista é o Parque Cultural Casa do Governador, um lugar ao qual agora a população tem acesso. O que significa isso?
Renato Casagrande – Este parque aqui já está aberto a eventos pontuais, mas estará aberto a partir de 1º de janeiro, de terça a domingo. Nós já tivemos aqui, na semana, show de Guilherme Arantes, tivemos festival de jazz. Domingo, a gente tem sempre o parque aberto com shows e apresentações culturais. Então, é um local de instrumento cultural e de preservação do ambiente.
Esta casa aqui, esta residência oficial, era um local acessível só ao governador, à primeira-dama, à equipe do governo e convidados, mas agora é um local aberto para todos os capixabas e todos os turistas que quiserem vir aqui conhecer.
A gente tem alguns equipamentos importantes que devem ser entregues ainda no governo do senhor. Cais das Artes, Teatro Carlos Gomes. Como o senhor pensa a arte e como vão ser esses próximos dois anos para a arte aqui no Espírito Santo?
Bem, primeiro aqui, de fato, é uma exposição a céu aberto, com diversos artistas capixabas e também de fora do Estado. Tem obras de arte aqui que são perenes, permanentes. Tem obras de arte que todo ano a gente faz um novo edital e troca. Então, é um local para as pessoas também contemplarem e apreciarem obras de arte de artistas capixabas e brasileiros.
Nós, de fato, estamos numa expectativa muito positiva de entregar o Cais das Artes em 2026 e entregar o Carlos Gomes no final do ano que vem, em 2025, ou também no início de 2026. São equipamentos importantíssimos.
Vamos começar agora a reforma no Carmélia, ali no Centro da cidade, perto da rodoviária. Também é um equipamento importante. Vai ser a sede da Fundação Carmélia. Então, sim, são diversos equipamentos que a gente tem hoje no Estado e que temos feito investimentos neles.
O Estado está preparado para entregar o Cais das Artes, uma obra muito comentada, muito falada, que parou muitas vezes, teve questionamentos sobre valores?
Teve um debate judicial com o Cais das Artes, porque, em 2015, o governo do Estado rompeu autoritariamente, unilateralmente, um contrato lícito. E aí deu um problema. Quando eu voltei, a gente conseguiu fechar um acordo, no ano passado.
Quando você toma uma decisão errada, sem diálogo, olha o prejuízo que dá à população. O Cais das Artes poderia estar pronto há muito tempo.
A gente retomou no ano passado, num acordo feito com a Justiça, com o Tribunal de Contas, e estamos na expectativa, sim, de a empresa seguir em frente, trabalhar e entregar em 2026. Essa é a nossa expectativa.
Estamos mantendo aqui um ambiente de diálogo com todas as forças políticas, tentando sair dessa polarização doentia que ainda está presente em algumas pessoas no Brasil. Então, o Estado hoje é respeitado e a gente tem como erguer a cabeça e continuar avançando com políticas públicas boas para a população.
Falando sobre essa relação entre governantes. Neste mês, o senhor realizou um almoço no Palácio Anchieta e convidou todos os prefeitos e vices. A gente notou uma ausência, do prefeito reeleito Lorenzo Pazolini. Como o senhor viu essa ausência e qual a sua relação com o prefeito da Capital?
Eu convidei os 78 municípios: 77 estavam presentes. Então, assim, essa pergunta tem que ser dirigida a ele. É para ele responder por que não foi, por que não foi a sua vice eleita, por que não mandou um representante. Eu, na verdade, convido todo mundo, trabalho com todo mundo.
Veja a quantidade de investimento que a gente tem aqui em Vitória: Ciclovia da Vida, Portal do Príncipe, Leitão da Silva, Complexo Viário de Carapina. Eu não olho o partido do prefeito. Veja que todos os prefeitos de diversos partidos de oposição estiveram presentes ou mandaram seus representantes.
Estou à disposição do prefeito para a gente poder trabalhar juntos. Não tenho nenhuma dificuldade em trabalhar junto com todos os prefeitos, independente da sua posição ideológica, da sua posição eleitoral, da sua posição política. Eu sou daquele time que, quando um não quer, dois não brigam.
Eu não quero brigar, eu quero trabalhar.
A gente veio de uma eleição para os municípios e agora nos preparamos para a eleição em 2026. Já definiu quem vai ser o candidato do senhor?
Não tenho nenhuma ideia ainda. Nós ainda estamos distantes da eleição. Temos um 2025 todo pela frente, sem eleição, para a gente poder trabalhar, produzir. Temos metade de 2026 ainda pela frente para a gente poder trabalhar e produzir. Aí sim, a partir de julho de 2026 é que a eleição de fato vai se definir. Qualquer conversa, qualquer pesquisa, qualquer decisão tomada nesse momento é muito prematura e chega a ser irresponsável.
Para nós estarmos aqui conversando sobre o Estado é muito bom. Agora, sobre a eleição de 2026 ainda é muito cedo porque qualquer decisão agora pode ser equivocada. No nosso grupo, naturalmente, eu liderarei, junto com o Ricardo Ferraço, o movimento político.
O nosso movimento político vai ter candidato ao governo, ao Senado, à Câmara Federal, à Assembleia Legislativa, mas nós não podemos ainda saber quem será candidato. Vamos ver o desenrolar dos acontecimentos.
Quem vai ser adversário, aí também não podemos dizer. Às vezes o adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã, então vamos continuar trabalhando.
Teve algo que o senhor não conseguiu realizar em 2024 e que o senhor faria diferente para tornar possível em 2025?
Eu não sei se tem alguma coisa que eu não fiz, que eu deixei de fazer, ou que eu fiz de um jeito e faria de outro. Eu não sei avaliar isso, para falar a verdade. A gente fica muito angustiado, muitas vezes, com a lentidão da máquina pública, porque tem uma burocracia às vezes necessária, às vezes exagerada, que permite que a gente não tenha tanta velocidade.
Mas, se você imaginar que em 2019, quando eu retornei para o governo, o Estado fez R$ 1 bilhão de investimentos em infraestrutura e em 2024 nós vamos fazer R$ 4 bilhões, então nós multiplicamos por 4 os investimentos.
Se você andar para qualquer lugar hoje do Espírito Santo, você vai tropeçar numa obra do governo do Estado ou em um serviço do governo do Estado, na área de saúde, de assistência, de educação. A gente está avançando, fazendo tudo aquilo que está ao nosso alcance, para poder fazer o melhor.
A gente sempre quer mais velocidade, mais eficiência, menos burocracia. A gente quer avançar mais em áreas estratégicas, como, por exemplo, na oferta de serviços de consultas, de exames, de cirurgias eletivas. A gente já está avançando muito, mas a velocidade ainda não é a que eu desejo e que a população deseja.
Temos que continuar melhorando serviços essenciais, como os da saúde pública, na qualidade da nossa educação. O Estado tem a maior nota do Brasil no ensino médio. Mas é a metade, é em torno de 5, e o ideal é estar perto de 10.
O que o senhor projeta para a economia nos próximos dois anos?
Nós não somos uma ilha. Dependemos muito do que acontece no governo federal e no mundo. Mas, no que depender do Espírito Santo, estamos preparados. Já temos hoje capacidade de investimento para 2025 e 2026 suficiente para repetir ou até ampliar os investimentos que estamos realizando em 2024.
Estamos falando de valores entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões por ano em infraestrutura, dependendo do desempenho da economia brasileira.
Se a economia nacional for bem, investiremos R$ 6 bilhões. Se houver dificuldades, manteremos R$ 4 bilhões.
Nosso diferencial é o ambiente de confiança que criamos. Enquanto o Brasil e o mundo enfrentam desconfiança, o Espírito Santo se destaca por sua organização e previsibilidade.
Em 2024, teremos obras importantes como o Contorno de Jacaraípe, a ligação entre Nova Almeida e Ibiraçu, o contorno de Viana, além de viadutos e projetos como a ciclovia que conecta Viana a Cariacica. São iniciativas que mostram nossa capacidade de investir com planejamento e responsabilidade fiscal.
O Espírito Santo é reconhecido pela boa gestão financeira, possui um Fundo Soberano com R$ 1,8 bilhão. Por que manter esse recurso guardado diante de desafios como melhorar a saúde, a infraestrutura e a educação?
Isso é questão de responsabilidade. Assim como em uma família, nós guardamos recursos para eventualidades ou oportunidades futuras. O Fundo Soberano é nossa “poupança” para emergências, como foi a pandemia ou as chuvas que atingiram Mimoso do Sul.
Além disso, é uma reserva para o futuro dos capixabas. Guardamos parte das receitas do petróleo para facilitar a vida dos próximos governantes e investir em áreas sustentáveis.
Um exemplo disso é o Fundo de Descarbonização que lançaremos, financiado com recursos do Fundo Soberano, para apoiar atividades econômicas que reduzam emissões de carbono. Essa é uma maneira de usar a riqueza de um combustível fóssil para promover inovações limpas, preservando o planeta e preparando o Estado para o futuro.
Em 2024, o Espírito Santo consolidou-se como referência em ESG, com eventos relevantes e parcerias internacionais. Como o senhor enxerga o ESG no Estado?
O Espírito Santo pode ser, de fato, uma referência em sustentabilidade, gestão responsável e compromisso social.
Além do Fundo Soberano, temos programas como o Reflorestar, que é modelo nacional em recomposição florestal, e estamos desenvolvendo planos de descarbonização e adaptação climática para o Estado e os municípios.
Esses planos vão além de diretrizes: financiaremos obras de prevenção e adaptação, como barragens e macrodrenagens.
Com o acordo de Mariana, recuperaremos mais de 22 mil hectares de floresta, reforçando nosso compromisso ambiental. Nossa transparência, a redução da pobreza e a busca por qualidade de vida posicionam o Espírito Santo como um estado competitivo e atrativo para moradores e turistas.
ESG não é apenas uma agenda ambiental: é uma estratégia para o desenvolvimento sustentável e geração de oportunidades.
Vamos falar um pouco sobre inovação e impacto da era digital. O senhor está nas redes sociais e recentemente postou algo curioso: que comeu feijão com macarrão pela manhã. Como o senhor vê essa presença da internet e das redes sociais?
Vejo isso como uma realidade que está colocada. Não adianta ser contra ou a favor. Precisamos entender que essa é a realidade e temos que usar bem as redes para nos comunicarmos. Nas minhas redes sociais, tanto no perfil do governo quanto no meu pessoal, procuro fazer uma comunicação que me aproxime das pessoas.
Quero mostrar que sou uma pessoa normal e simples, como realmente sou. Não dá para forjar um comportamento artificial nas redes sociais e acho que elas são boas ou ruins dependendo de como você as utiliza. Se você é autêntico, as pessoas se identificam e interagem.
Quem é o Renato Casagrande que as pessoas veem nas redes?
Sou essa pessoa normal, que ajuda em casa, que gosta de uma alimentação reforçada de manhã – como macarrão com feijão, banana cozida, inhame ou aipim. Isso me dá energia para fazer atividade física e encarar a rotina.
Gosto de trabalhar e sou muito presente com minha família. Venho de uma família comum, sem acúmulo de riqueza ou histórico na política, e isso me ajuda a ter empatia. Nunca imaginei ser governador, mas Deus me levou por esse caminho, e estou cumprindo minhas tarefas com dedicação.
Como o senhor vê o potencial turístico do ES?
Nosso Estado tem um potencial enorme, com cerca de 400 quilômetros de litoral e montanhas pertinho do mar. Durante muito tempo ficamos escondidos, mas agora estamos promovendo o Espírito Santo com campanhas nacionais e investimentos em infraestrutura.
Reformamos a orla de Meaípe, Piúma e outras regiões. Estamos urbanizando praias como Ubu e construindo rodovias importantes para conectar localidades turísticas. Além disso, vamos repassar recursos para os municípios investirem em infraestrutura turística.
Turismo depende tanto de boas políticas públicas – como segurança, saneamento e saúde – quanto de investimentos privados.
Em Guarapari, por exemplo, vemos muitos empreendimentos surgindo, como hotéis e parques, impulsionados pela confiança no setor.
Considerando as perdas previstas com a reforma tributária, o turismo pode ser uma ferramenta de compensação?
Com certeza. Para isso, estamos investindo na qualificação da mão de obra, como por exemplo com o Programa Qualificar Turismo, que ensina inglês e boas práticas de atendimento. Também vamos construir um moderno Centro de Convenções na Serra, em Carapina, para atrair eventos.
Outra iniciativa é o incentivo ao turismo de experiência, como levar o visitante para uma colheita de café em propriedades locais, por exemplo. Essas ações têm como objetivo transformar o turismo em uma fonte de receita ainda mais expressiva para o Estado.
Como o ES se posiciona em relação à transição para energias renováveis?
Estamos dando passos importantes nessa área. O Fundo Soberano, por exemplo, tem ajudado empresas a migrar de combustíveis fósseis para fontes limpas, como energia solar, eólica e hidrogênio verde.
A partir de janeiro, todos os carros do governo passarão a usar etanol. E estamos eletrificando nossa frota de ônibus. Em 2024, teremos 50 ônibus elétricos operando, e estamos montando a infraestrutura de carregamento com apoio da iniciativa privada. Além disso, incentivamos a compra de ônibus fabricados aqui no Estado, pela Marcopolo.
Dá para aliar desenvolvimento, sustentabilidade e qualidade de vida?
Estamos focados em transformar o Espírito Santo em um estado de referência nesses aspectos. O progresso acontece aos poucos, mas com investimentos consistentes, vamos construir um futuro ainda melhor para os capixabas.
Temos produção de etanol aqui no Estado. O senhor pensa em algum tipo de incentivo para diminuir o preço?
Nós já temos um incentivo tributário para garantir que o etanol produzido aqui tenha as mesmas condições competitivas do etanol de outros estados, como São Paulo, que oferece muito subsídio. Mas estamos abertos a dialogar com o setor para discutir novas possibilidades.
O senhor gosta de futebol?
Adoro futebol! Sou botafoguense e estou muito feliz com o time. Ganhamos o Brasileiro e também a Libertadores da América.
O que falta para o Espírito Santo ter um time na primeira divisão?
Falta organização. Agora estamos mais perto disso. Temos o Porto Vitória e o Rio Branco, que estão na Série D, com boas perspectivas de avanço. O papel principal para desenvolvimento do esporte aqui no Espírito Santo é do setor privado. O Estado apoia, mas o futebol é uma atividade cara e precisa de investimentos empresariais.
No caso do Rio Branco, já temos uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol), e o Porto Vitória nasceu como um empreendimento privado. Esses modelos trazem expectativas positivas.
E sobre outras modalidades esportivas? Quais são os projetos do governo para incentivá-las?
Temos políticas importantes como a Bolsa Atleta, que apoia financeiramente nossos atletas de destaque. Em infraestrutura, estamos investindo em campos, quadras e ginásios. Quase todas as nossas escolas possuem áreas esportivas e, onde não há, estamos construindo.
Também temos o programa “Campeões do Futuro”, que hoje atende cerca de 20 mil crianças, e um ginásio específico para o paradesporto. É um grande conjunto de ações para fomentar o esporte.
Que legado o senhor quer deixar para o Espírito Santo?
O maior legado é a confiança. Quero que as pessoas acreditem nos seus governantes e nas instituições públicas.
Quero também deixar o legado do equilíbrio, da responsabilidade e da convivência respeitosa com as diferenças.
Trabalhei para reduzir as desigualdades sociais. Meu foco foi e sempre será construir um Estado justo e competitivo, com educação e saúde de qualidade e serviços eficientes para todos. É isso que eu busco incansavelmente.
Assista entrevista na íntegra!
https://www.youtube.com/embed/6Gq82xU4X5k
Fonte: Folha Vitória