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Um sonho antigo, de quase 30 anos, pode começar a se tornar realidade na região que se abriga aos pés da Serra e do Parque Nacional do Caparaó, no sudoeste capixaba: a Estrada Parque Modelo do Caparaó.
O anúncio vem da diretora-executiva do Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável do Território do Caparaó Capixaba (Consórcio Caparaó), Dalva Ringuier. “O governo do Estado se comprometeu a fazer a pavimentação do trecho de 12 km entre a BR-262 e Pedra Roxa, nos moldes da Estrada Parque”, relata, com base em tratativas realizadas há poucos dias no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Regional Sustentável (CDRS), onde ela coordenou a Câmara Técnica de Turismo.
Nesse primeiro momento, conta, o que vai ser possível é basicamente uma estrada um pouco mais larga do que o padrão do Caminhos do Campo, programa de pavimentação de estradas rurais e municipais da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag). Apesar dos benefícios trazidos pela pavimentação simples do programa, o padrão não atende às necessidades de uma estrada parque, que tem no interior de São Paulo a expressão mais bem estruturada, no Brasil, desse tipo de projeto.
A estrada parque precisa dar espaço para pedestres, ciclistas, carroças e cavalos e incluir pontos de parada e outros espaços de recreação e comercialização dos produtos agrícolas locais. Cada uma, respeitando as tradições e necessidades de sua região.
O sonho caparaoense foi germinado no início dos anos 1990, nos corações de pessoas como Constantino Korovaeff e Mirian Cavalcanti, ambientalistas fundadores da mais antiga ONG em atividade na região – a Associação Pró-Melhoramento Ambiental da Região do Caparaó Capixaba (Amar Caparaó) – e em seguida difundido pelo então Fórum Pró-Caparaó, semente do atual Consórcio Caparaó.
Nos traços e escritos dos dois e outras pessoas que se instalaram aos pés da montanha sagrada capixaba, ainda embalados pelo Encontro Nacional de Comunidades Alternativas (Enca) de 1991 e pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92 ou Rio 92), a Estrada Parque Modelo tem muitos jardins, pomares, canteiros de ervas medicinais, locais cobertos para contemplação da natureza e descanso dos peregrinos.
O pontapé anunciado pelo governo para 2022 disponibiliza um espaço de acostamento onde essas estruturas podem, futuramente, ser implementadas, seja pelo poder público ou pelos próprios moradores e empreendedores.
Animada com esses primeiros 12km na saída da BR-262, Dalva Ringuier diz ter encontrado destinado ideal para as 200 mudas de ipê amarelo que tem prontas em sua Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), a Águas do Caparaó, na região da Cachoeira Alta, distrito de Mundo Novo, em Dores do Rio Preto.
“Estou falando com minhas vizinhas que também apoiam a estrada parque e conhecem o projeto da Amar Caparaó, para plantarmos essas mudas nas nossas propriedades, e ir conversando com outros vizinhos, disseminando a ideia”, conta. Assim que a temporada de chuvas iniciar, seja em setembro, nas chamadas Chuvas de São Miguel, ou em novembro, os plantios irão acontecer. “Porque não é só plantar, tem que cuidar também, precisa aguar. Então é melhor esperar a estação chuvosa”, explica.
Há ainda dois outros trechos já destacados pelo governo do Estado, em ofício enviado pela Secretaria de Estado do Turismo (Setur) ao Consórcio. O primeiro, de 16,2km, do entroncamento da BR-262 em Pequiá até São José das Três Pontes/Iúna, e entre São João do Príncipe e Rio Claro, ambos distritos de Iúna, que já conta com projeto para licitação elaborado. Este, na vertente mais oeste do entorno do Parque Caparaó.
O segundo cobre 43km da ES-190, entre a cidade de Dores do Rio Preto e Pedra Roxa, em Ibitirama, na face leste do entorno do parque, até seu limite sul no Espírito Santo. Para este, segundo foi informado o Consórcio, o projeto está em elaboração, com previsão de investimento da ordem de R$ 68,8 milhões.
Trata-se do trecho da estrada parque que passa por alguns dos principais distritos turísticos da região, incluindo a vila do Patrimônio da Penha, em Divino de São Lourenço, para a qual é prevista a construção de um contorno que retire o trânsito pesado de caminhões sobre as ruas de paralelepípedos da comunidade.
“Há uma expectativa do governo de contratar também esses dois trechos ainda em 2022, mas em vista das eleições, tudo fica incerto”, pondera Dalva Ringuier. Mas o importante, assinala, é que pelo menos os 12 km entre a 262 e Pedra Roxa saiam de fato do papel, que os ipês amarelos sejam plantados entre Mundo Novo e Patrimônio da Penha. “Daí para frente, até Pedra Menina, pode-se ir trabalhando trechos específicos”, convida a diretora-executiva, referindo à localidade que sedia a portaria capixaba do Parque Nacional e representa outro trecho turístico fundamental, já a oeste do Parque, na divisa com Minas Gerais.
De pedaço em pedaço, é possível vislumbrar o envolvimento dos cerca de 100 km que unem a 262 até Pedra Menina. A ideia ainda, contextualiza, é futuramente incluir a Estrada Parque Modelo do Caparaó no polígono de uma futura Área de Proteção Ambiental (APA), a exemplo da citada Estrada Parque de Itu, instalada na SP-312, no interior paulista, e que integra a APA Rio Tietê.
A APA estadual ou as APAS regionais/municipais – formato ainda em discussão – estão em gestação entre o governo do Estado e os cinco municípios do entorno direto do Parque, sob condução do Consórcio, com objetivo principal de interromper a ofensiva de desmatamentos, loteamentos irregulares e outras agressões ambientais no entorno direto da unidade.
A implementação da estrada parque do Caparaó foi identificada como prioritária no Plano de Ação do Desenvolvimento Regional Sustentável da Região do Caparaó, construído em conjunto com o CDRS Caparaó, Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). Os Planos de Ação e os diagnósticos de todas as dez microrregiões do Estado foram lançados no início de maio no Palácio Anchieta, após quase três anos de estudos dentro de um projeto que, a princípio, se lançaria a criar um Índice de Prosperidade do Espírito Santo (Ipes).
Fonte: Século Diário.