
‘Controle social do SUS prevaleceu’
17 de junho de 2025Comunidade exige presença de representante da concessionária
A comunidade indígena Tupinikim da aldeia Irajá, em Aracruz, no norte do Espírito Santo, permanece em protesto na rodovia ES-010, principal ligação entre o centro de Aracruz e o distrito de Coqueiral, contra a omissão da concessionária EDP Espírito Santo diante da precariedade no fornecimento de energia elétrica no território. Os moradores bloqueiam a rodovia desde 4h da manhã desta segunda-feira (16), e afirmam que não há previsão de liberação até que um representante da empresa compareça presencialmente à aldeia, para dialogar com a população com uma solução e prazos definidos para regularizar a situação.
A mobilização é uma resposta direta à recusa da empresa em atender ao apelo dos Tupinikim em enviar um funcionário para apresentar um relatório técnico e assumir um compromisso formal para resolver os problemas estruturais no fornecimento de energia elétrica que afetam a aldeia há mais de um ano e meio.
“A comunidade indígena do Irajá está em mobilização para reivindicação dos nossos direitos, que há anos estão sendo violados com uma rede precária que passa por dentro do nosso território”, declarou a cacica Marcela Rocha.
Segundo os moradores, a EDP segue se recusando a enviar um representante técnico ou engenheiro à aldeia, apesar das diversas tentativas de diálogo. Um caminhão da empresa permanece retido dentro do território desde a semana passada, como forma de pressão. A comunidade insiste que a resolução da crise só será aceita se for discutida com os moradores dentro da aldeia e com compromissos documentados.
Vídeos gravados pela própria comunidade e compartilhados nas redes sociais mostram faixas, cartazes e indígenas reunidos na beira da rodovia, reforçando que a manifestação é pacífica, mas firme. “Estamos nessa luta porque já pedimos melhorias, ouvimos promessas e continuamos no escuro – literalmente. A energia não chega para todos, as ruas não têm iluminação, e quando pedimos troca de lâmpadas queimadas, leva meses. Tem morador que precisa improvisar com a luz da própria casa para iluminar a rua”, relatam.
Além dos transtornos cotidianos, os indígenas denunciam o descaso da empresa com os prejuízos materiais já sofridos por diversas famílias. Aparelhos como ventiladores, televisores, micro-ondas e até geladeiras da escola foram queimados devido a picos de energia. “É muito triste conquistar algo com tanto esforço e perder assim, e ninguém se responsabiliza por isso”, desabafou uma moradora.
Em carta aberta publicada nas redes sociais nesse sábado (14), a comunidade denunciou o que classificam como “descumprimento de compromissos assumidos” e “falta de respeito com os povos originários”. No documento, os indígenas afirmam que a manifestação com bloqueio da pista foi uma decisão coletiva, tomada após esgotadas todas as possibilidades de diálogo.
“A EDP, empresa responsável por operar em nosso território, tem se mostrado omissa em relação a problemas graves de infraestrutura relacionados à energia, riscos à integridade física das pessoas da aldeia e descumprimento de acordos socioambientais. Não estamos exigindo privilégios. Estamos lutando por direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal e por tratados internacionais”, diz o texto.
Mobilização
A manifestação foi convocada nessa sexta-feira (13), após mais uma tentativa frustrada de diálogo com a EDP. A comunidade ressalta que já participou de diversas reuniões nos últimos anos, sem que houvesse solução concreta.
Na sexta, lideranças e moradores se reuniram na cabana comunitária da aldeia para aguardar a chegada dos técnicos. Um representante da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Bruno Curtis Weber, também esteve presente para acompanhar a situação, mas a negociação não chegou a acordo entre as partes. A empresa exigiu que as lideranças saíssem do território para se encontrar com os técnicos em um local externo, o que foi rejeitado pelos Tupinikim. Diante do impasse, uma nova reunião foi marcada para a tarde do mesmo dia, desta vez com representantes da Prefeitura de Aracruz, sob gestão do prefeito Dr. Coutinho (PP), na tentativa de buscar um encaminhamento conjunto.
Segundo a cacica da aldeia Irajá, Marcela Rocha, o município se dispôs a colaborar com aspectos que estão sob sua responsabilidade, como a poda de árvores próximas à rede elétrica. Um representante do governo municipal tentou mediar uma conversa por telefone com a EDP, mas o técnico da empresa teria condicionado qualquer diálogo à ida das lideranças até um local fora do território indígena.
“A voz da comunidade precisa ser ouvida dentro do território, não fora. O nosso território é impactado diretamente pela EDP. Exigimos uma solução. Não vamos sair daqui enquanto não formos ouvidos”, reforçou Marcela.
Fonte: Século Diário.